sábado, 14 de maio de 2011

III - Surpresa

*Este texto é a terceira parte do Romance. Você pode ler as outras partes clicando nos links ao lado do texto.

             

Resolvi pintar um quadro com um ninho que havia no jardim, pois eu gostava do aspecto dele, fitava-o sempre quando parava a pensar, preparei uma tela, tintas, pinceis, lápis e mais algumas outras coisas úteis... Peguei meu cavalete, a boina e fui ao jardim.
Pintores são comuns por aqui, sempre se encontra algum pintando algo ou alguém, uns são profissionais, outros amadores ou até iniciantes, eu sempre paro e olho os trabalhos deles, não faço comentário, nem dou opinião, fico com minhas próprias conclusões, raramente mostro algum trabalho meu a alguém, pois, sou um pouco acanhado, e não gosto muito de me expor.
Os pintores têm o seu valor, mas nem sempre são reconhecidos, são até admirados e muitas vezes apenas isso, as vezes as pessoas dão faíscas de ânimo, mas sem lenha não se pode fazer fogo. Como disse, não gosto de me expor, mas hoje vou abrir uma exceção, porque aquele simples ninho me faz lembrar muitas coisas, muitos momentos na solidão de meus pensamentos e não quero esperar ele se degenerar antes de preservar a sua imagem por meio da pintura...
Enfim, cheguei ao ponto do jardim onde se encontrava o velho ninho já desabitado, lembro- me bem dos novos amiguinhos, que agora já são jovens e se misturaram aos outros pássaros e agora me confunde já não consigo identificar os antigos moradores daquele velho ninho, sei que vez por outra eles passam por aqui, cantam, cantam e vão embora...
Armei então o cavalete, coloquei a tela, esbocei o desenho, comecei o meu trabalho... e tome tinta pra cima. Onde eu estava, era um lugar um pouco reservado, poucas pessoas viam meu cavalete, pois havia um arbusto que me ocultava dos transeuntes. Não que eu quisesse me esconder, mas também não queria aparecer, e o local que eu estava, me dava o melhor ponto de vista do ninho, pois ficava um pouco atrás do banco que eu sempre sentava. Creio que as pessoas viam apenas parte da tela e os pinceis voando em suas pinceladas.
Assim pincelada vai, pincelada vem, mas mesmo estando em um ponto aparentemente reservado as pessoas começaram a se aproximar. E eu ali, olhos fixos na tela e no ninho, no ninho e na tela. E a tinta era quase de bolo. Contudo as pessoas foram chegando, mas eu não me incomodava, pois estava bastante concentrado. Quando ouvi uma voz. “- Que lindo.” Aquela voz era tão suave, que tocou meu coração, era mais suave que o canto dos pássaros, quando olhei para ver, quem havia falado, pois queria saber a quem pertencia àquela linda voz.
Tive uma devastadora surpresa. Ela olhava-me simpaticamente, fiquei pálido, o sangue correu rapidamente pelas veias, não entendi por que. Ela sorriu e... disse algo que não entendi, pois parecia que estava enfeitiçado. Só sei que tinha alguma coisa, a ver com desenho, tenho a impressão que foi uma pergunta na dúvida não falei nada. Olhei para tela quando... “- Helenice...” - Alguém chamou olhei para ela que sorriu mais uma vez e foi embora. Então é esse o nome dela percebi.
A presença dela me trouxe certo desequilíbrio, e a partir daí não via nem mais a tela, via apenas o seu lindo sorriso em minha frente. Não consegui me concentrar mais na pintura, pedi licença aos presentes, disse que iria terminar a obra outro dia. Pois não dava para fazer mais nada.
- Queiram me desculpar, mas tenho que ir. - Recolhi o material e me retirei, pensando no sorriso de Helenice, Helenice pelo menos foi assim que a chamaram. Eu não conseguia esquecer aquela voz nem aquele sorriso.
- Não entendo... estou surpreso via-lhe tão indiferente, e agora ela veio com toda aquela simpatia... realmente não entendo foi pensando nela que cheguei em casa. - Não sei porque pensava tanto nela, e estava completamente confuso, sem entender, como uma pessoa antes tão orgulhosa, com olhares e maneiras tão altivas e desprezíveis, de repente torna-se uma pessoa tão meiga e simpática, tão doce que chega a transmitir certo carinho nas suas palavras e sorriso.
- Será que estou louco ou apenas sonhando... será que era ela ou será que não é a mesma pessoa dos outros dias, isso é loucura pode ser outra pessoa, seria muita perfeição, porém seus olhos me davam a certeza que é ela... eu acho, não sei.
- Porque será que estou pensando tanto nela, não consegui esquecer-la esses últimos dias, tenho certeza que não estou apaixonado, mas se estivesse seria com razão, pois ela e muito bonita. Seu rosto é tão delicado, sua pele rosada, seus olhos castanhos claros, seus finos lábios, nariz afilado, sobrancelhas igualmente feitas, longos cabelos pretos a descerem suavemente por sua pele morena rosada, fina como uma boneca de cristal... Ah como eu queria pintá-la numa tela só para mim... eu acho que estou louco... imagine só uma senhorita daquela posando pra mim desenhá-la, é um sonho Íthalo, você esta realmente louco. Certamente, pois estou tão confuso que até falo sozinho. - Mas desenhá-la nem em sonho seria possível...

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