Falar sobre culto sempre foi uma tarefa difícil, isso ocorre devido a variedade de cultos que encontramos ao longo da história, tanto no que se refere a forma como ao entendimento da adoração. Contudo, é um dos assuntos mais importante da igreja, pois ele envolve o coração do povo de Deus, além do próprio relacionamento com o Senhor.
Veremos de forma bastante resumida aqui o desenvolvimento da adoração ao longo das Escrituras e da história do cristianismo. Esse artigo é um resumo geral da nossa pesquisa de conclusão de curso, que posteriormente colocarei a disposição de todos que se interessarem pelo assunto, bem como colocarei aqui nesse espaço boa parte do trabalho em partes distintas.
O DESENVOLVIMENTO DO CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO
Definições sobre Culto
Existe nas Escrituras, mas de cinco mil termos usados para culto, desde bendizer, exaltar, temer, adorar, servir, etc. Contudo, todas elas apresentam dois sentidos básicos, que são atribuir glória à Deus em reconhecimento a sua grandeza e seus atributos, bem como viver em submissão e obediência a sua vontade.
Os Primórdios da Adoração
O pecado de Adão dentre outras coisas está relacionado à desobediência a ordem de Deus revelando assim insubordinação e falta de reconhecimento da soberania de Deus.
A adoração de Abel e Caim revela que o caráter do adorador está relacionado à atitude do mesmo, bem a sua oferta apresentada a Deus descreve a sua relação com Ele. (Gn 4.3-7; Hb. 11.4)
O Culto no Período Patriarcal
No período patriarcas de Noé, Jó, Abraão, Isaque e Jacó. A adoração era tanto particular e individual como familiar, e consistia em levantar um altar dedicado ao Senhor. Onde Deus se revelar-se por meio de sonhos ou de um ato na vida do patriarca ali era o local de adoração. Além disso, o líder do lar exercia a função de sacerdote da família, tendo a responsabilidade de realizar o sacrifício bem como ensinar e guiar os seus filhos na vontade de Deus. (Gn 8.20; 12.7,8; 13.4,18; 22.3-9; 26.25; 33.20; 35.1,3,7).
O sacrifício era uma das partes principais da adoração, mais também eles oravam ao Senhor, e bendiziam o seu Santo Nome. (Gn 12.8; 13.4,18) O sacrifico implicava em uma aliança com Deus.
A Adoração a partir de Moisés
No período de Moisés, a adoração passou ser organizada de acordo com as ordenanças de Deus, os descendentes de Levi, são separados para cuidar dos sacrifícios e recebem um manual de adoração do próprio Deus, onde era regulados todos os atos da adoração, além dos utensílios do tabernaculo as vestes dos sacerdotes. Nesse período a adoração era realizada onde era onde o tabernáculo estivesse armando. (Os capítulos 25 – 29 do livro de Êxodo bem como o de Levítico destinados aos sacerdotes de Israel, descrevem detalhes da adoração desse período.)
Havia nesse período vários tipos de ofertas, tanto de animais como de cereais, etc. Além disso elas eram oferecidas pelo pecado, pela culpa, bem como em gratidão, promessa, votos ou até mesmo ofertas pacificas e voluntarias. Contudo, o cerimonial do Antigo Testamento apontava para Cristo e sua obra, sendo meios provisórios do relacionamento com Deus.(Jo 1.29; Hb 9.9-15; 10.4)
No Período de Davi e dos Reis de Israel
Davi organizou a música de Israel, próximo aos períodos dos reis a adoração passou a ter lugar fixo, foi também construído o Templo de Israel, onde eram realizados os serviços de adoração. Desde os tempos de Moisés os cultos eram realizados de três formas: Os Festivos, realizado pelo povo nas festas civis; Páscoa, Pentecostes, etc. onde havia muita música e danças nas ruas, com o uso de vários instrumentos, O Solene, realizado pelos sacerdotes no tabernáculo onde havia os sacrifícios bem como muita reverência, e o Solenissímo onde o sumo-sacerdote realizava a intercessão pelo povo nos Santos dos Santos.
O Culto no Período do Exílio
Devido os desvios dos reis, tanto na adoração quanto na vivencia da Lei de Deus, o povo foi levado a cativeiro, e assim, ficaram impossibilitados de realizarem a adoração com todas as ordenanças sacrificais. Assim surgiram de forma mais organizadas grupos para estudo da Lei, assim se organizaram as a sinagogas, que eram usadas principalmente para o ensino e oração. As sinagogas continuaram sendo usadas ao longo do tempo, inclusive no período intertestamentário.(Lv 23.1-44; Is 1.13-14)
O DESENVOLVIMENTO DO CULTO CRISTÃO
No período de Jesus o serviço de adoração, era realizado tanto nas sinagogas como no Templo, pois, na volta do povo de Israel do cativeiro babilônico, a adoração tinha se reorganizado, porém com ênfase maior no estudo da Lei, apesar do sacrifício continuar sendo realizado.(Lc 4.16-22; 22.17-20; Jo 6.41-59)
O Culto no Período Apostólico
Na adoração da igreja primitiva a ênfase recaia no sacrifício de Cristo, no ensino dos apóstolos e na comunhão da igreja em torno da Ceia do Senhor. Nesse momento da igreja houve muitas dificuldades, pois existiam igrejas que não tinham cópias das Escrituras, e a adoração sofria muitas influências judaizantes, principalmente nos aspectos legalistas e sacramentais, além de influencias da cultura grega e romana.
Porém as reuniões dos cristãos do primeiro século eram muito simples, eles se reuniam nas casas como também no Templo.(At 3.1) Os cultos eram realizadas em torno da Ceia do Senhor.(At 2.42-47). Porém os apóstolos orientavam as igrejas, pois os cultos se desenvolviam com certa dinâmica.(1Co 11.17-34; 14.26-40)
Contudo, muitas comunidades cristãs aproveitaram muitos elementos da adoração sinagogal, bem como da liturgia das sinagogas. O próprio apóstolo Paulo continuou freqüentando as sinagogas compartilhando o seu conhecimento das Escrituras.(At 13.14-16)
O Desenvolvimento do Culto do Século II ao V
A partir do segundo século a adoração passou ser melhor estruturada e fiscalizada pela liderança da igreja, eles seguindo as orientações apostólicas, passaram a organizar adoração e regular a participação do povo na serviços litúrgicos. A adoração girava em torno da Ceia do Senhor, que era chamada de eucaristia. Posteriormente foram confeccionadas vestes sacerdotais e adotados outros ornamentos com o propósito didático, assim também surgiram lecionários, bem como livros de orações.
As Mudanças no Culto do Século V ao XV
A partir do quinto século a igreja sofreu muita influencia de outras culturas, assim a igreja começou a adotar posturas místicas dentre outros hábitos.
ANALISE DO CULTO CRISTÃO A PARTIR DA PERPECTIVA REFORMADA
O Movimento Puritano do séc. XVII
O Movimento Puritano trouxe maiores reflexões sobre o culto, nesse período muitas igrejas protestantes da Inglaterra estavam com posturas semelhantes à Igreja Romana. Assim 121 teólogos se reuniram na Abadia de Westminster para definirem o ensino e a pratica da igreja. Aqueles que não concordaram com as decisões dos teólogos puritanos, foram chamados de conformistas. Assim as duas tradições litúrgicas foram mantidas.
As Mudanças no Culto do Século XVIII e XIX aos Dias Atuais
As maiores mudanças na adoração cristã protestante ocorreram a partir do século XVIII, como os movimentos de avivamentos, e reavivamentos, com esses movimentos surgiram o evangelicalismo, bem como posteriormente o movimento pentecostal e renovação carismática, além de movimentos ecumênicos e outros. Trazendo assim grandes mudanças no cristianismo, desde o entendimento, ensino e prática das igrejas.
Dessa maneira houve novas ênfases na adoração, produzindo uma grande diversidade de manifestações cúlticas, chegando a existir atualmente seis tipos básicos de cultos, com suas variações e combinações. Que vão dos mais litúrgicos e tradicionais aos mais livres e dinâmicos.
OS ASPECTOS TEOLÓGICOS E O DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL DA ADORAÇÃO CRISTÃ
Os Princípios do Culto Cristão
Existe tanto no Antigo como no Novo Testamento, princípios que norteiam a adoração: A Fé e o Entendimento, A Consciência da Grandeza de Deus, A Contrição, Confissão, Intercessão e Súplica, A Gratidão e o Louvor, A Consagração e Dedicação, A Edificação.
Além disso, as Escrituras nos dão os elementos do culto: A Leitura das Escrituras, A Pregação, A Oração, Os Cânticos, e Ofertórios.(1Cr 15.16; 23.5; 7.6; Ne 7.1; 8.2-8; 11.22; 12.36,42-46; 13.5; Mt 26.30; Mc 14.26; Lc 4.16; At 1. 15,41; 2.42-46; 3.1; 4.24,31; At 13.15-41; Ef 5.19; Cl 3.16; 1Co 11.23,24,25; 14.1; 1Co 16.1,2)
O Desenvolvimento Racional do Culto
A adoração passa pela razão, o culto não é algo meramente emocional, embora envolva também as emoções, ele se desenvolve na mente e no coração do adorador. Esse aspecto do culto é chamado de desenvolvimento racional, intelectual ou psicológico do culto, pois, diz respeito ao que se passa na mente do adorador no momento da adoração. Assim o culto também é um memorial da salvação, onde o cristão lembra o que Cristo fez por ele na cruz.
Nesse aspecto ele também atemporal, pois, o cristão vive em três tempos; passado, presente e futuro, ou seja, lembrando o que Cristo fez por ele no passado, as bênçãos de Deus no presente, e as promessas do futuro, esses elementos nos dão o motivo de nossa adoração. A Santa Ceia também expressa essa idéia. Quando Jesus disse fazei isso em memória de mim, anunciando até que eu volte. Assim o cristão na Ceia do Senhor relembra o sacrifício feito por Cristo, anunciando-o no presente e esperando a volta do Senhor no futuro, o mesmo se aplica ao culto.
CONCLUSÃO
A adoração deve ser realizada com entendimento, só assim a forma fará sentido, pois a compreensão da grandeza, santidade e bondade de Deus guiará o nosso culto de acordo com as Escrituras, numa submissão a Santa Palavra, obedecendo aos padrões estabelecidos pelo próprio Deus para o culto que só a Ele é devido. Só a Bíblia Sagrada regula todos os nossos atos diante do Senhor, assim as nossas atitudes de culto bem como a forma como adoramos devem ser elaboradas de acordo com a Santa Palavra de Deus e não simplesmente de acordo com meras emoções, gostos ou preferências. Adoremos à Deus com entendimento, somente à Ele seja a Glória pelos séculos dos séculos.
O que você quis dizer com: famílias litúrgicas Calvinistas são mais humanísticas ???
ResponderExcluirkkkk
"Humanisticas" no sentido que a liturgia foi extremamente simplificada, de modo que se tornaram mais compreendida pelo povo em geral e não apenas para os intelectuais da igreja como era no contexto da idade média. ;)
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