sexta-feira, 15 de abril de 2011

I. Numa Tarde de Domingo



O texto a segui faz parte de uma espécie de romance que comecei escrever em 2003, constitui uma ficção, entretanto ele contém alguns elementos pessoais. Resolvi compartilhar com todos, por ser um texto leve e descontraído. As pessoas que leram o manuscrito, que procurei manter aqui a forma original, incentivaram de forma bastante ansiosa o desenvolvimento do mesmo, confesso que foi muito bom ver o interesse pela estória em construção por parte dos amigos que acompanharam sua fase inicial.


Numa dessas tardes de domingo, estava eu lendo um livro, como de costume, sentado em um velho banco do jardim da cidade. Envolvido pela sombra de uma imensa árvore, onde pássaros soltam seu canto pelo ar tranqüilo e pacato do jardim. Algumas pessoas dando milhos aos pombos, enquanto outras caminham pelo calçadão, passando para lá e para cá, crianças brincando sob os olhares de seus responsáveis, ao olhar esse cenário ao meu redor, distraio-me um pouco de minha leitura, foi então que uma bela senhorita me prendeu toda atenção, com sua beleza que se harmonizava com seu traje de princesa um longo vestido que se ajustava perfeitamente em seu corpo de maneira que denunciava sua formosura e bom gosto, em finíssimo luxo.
Olhou-me indiferente, como quem olha para uma coisa qualquer e insignificante. Eu desprezei o seu olhar, mas fiquei a contemplar sua elegância, que deixava no ar certa vaidade e orgulho. “É muito soberba” pensei desprezivelmente, e voltei à atenção para o livro que também já havia perdido a graça. Então, fiquei a ouvir a linda melodia dos pássaros, que soava suave em meus ouvidos, e me trazia a lembrança, minha querida Mariane... Nesse pôr do sol, onde os pássaros se recolhem, onde estará o meu amor, será que está pensando em mim? Acho que não! Pois ela não se importa muito comigo, alias ninguém se importa, nem mesmo eu mim importo... Pronto!
Foi só pensar nela, já fiquei triste e mau humorado... tudo perdeu o brilho... até a própria tarde... me levantei cabisbaixo e dei alguns passos, quando ergui a cabeça vi novamente a intrigante senhorita, que vinha a uns dois passos de mim. Olhei para trás como a conferir, se havia esquecido algo no banco, apenas para não cumprimentá-la, com dadivoso, “boa tarde”, que é dever de todo cavalheiro... Quando voltei meu olhar para o caminho ela já estava a certa distância a minha direita, segui no mesmo caminho que ela. Pois ele ia dar na avenida principal da cidade, segui sempre mantendo a certa distância estabelecida entre nós.
Os seus passos eram firmes e faceiros, uma leve brisa trazia o seu perfume, que era suave como os lírios, sua fragrância me encantava, eu seguia, seduzido por sua elegância e encantado com seu perfume, caminhava de maneira que parecia está seguindo-a, mas ela se mantinha indiferente, não se importava comigo, caminhava aparentemente calma, sua postura era sempre a mesma, transmitia firmeza em seus passos que fascinava...
Enfim chegamos à avenida, havia um carro a sua espera, era uma máquina do ano, e parecia ter saído da fabrica naquele exato momento, para buscá-la. Um cavalheiro veio abrir-lhe a porta, talvez fosse um mordomo ou o motorista quem sabe, não deu para deduzir bem, pois nunca tinha visto um uniforme daquele, o homem estava todo empacotado, rsrs.. voltei minha atenção para o carro, ela me olhou de maneira comum, como se quisesse apenas conferir quem a tinha seguido todo o caminho. Eu estava ali encantado... com o carro, que já estava se deslocando, então fique largado ali a espera do bonde.
Passados uns vinte minutos, apareceu o bendito, estava lotado causando-me espanto, mas por sorte minha desceram algumas pessoas nesse ponto, que é um dos principais da cidade. O sininho tocou me proporcionando uma pequena alegria, avisando a saída do bonde, subi então, paguei a passagem. E vou-me embora no balanço da fera, que aos poucos nem percebo. Pois, meus pensamentos se voltam para Mariana... será que vale a pena do poeta, insistir nesse sonho que já  duram cinco anos. Sei que ela gosta de mim, mas não entendo o por que de não me da uma chance!
Quero fazer-la feliz, por que não aceita o meu amor ­por que recusa meus beijos. Ela sabe que meu coração a ela pertence. Porque recusa meu amor se não consegue viver sem mim. Não entendo. Simplesmente não entendo com essa confusão na cabeça, cheguei ao meu ponto, desci caminhei um pouco, enfim, cheguei ao condomínio em que moro, subi as empoeiradas escadas e... ufa!! Finalmente, lar doce... “- Eu dou um murro nesse olho de bomba que quem dorme é ele...”, ou quase doce lar, pois meus vizinhos sempre estão em pé de guerra. Abri a porta e meu simpático amigo e companheiro me recebeu com miados de alegria:
- Olá Dr. Julieu?
- Miau...
- Como foi seu dia hoje??
- Miau...
- Queres comer alguma coisa??? 
- Miau, miau...
- Está certo! Vou colocar o nosso jantar.
- Miau, miau... miau...

Joguei o livro de lado, e fui fazer alguns serviços domésticos... Após o jantar sentei- me em minha modesta poltrona, coloquei um disco na vitrola e fiquei a ouvi musicas que me trazem a memória, momentos que vivi com Mariane... Mesmo sem a ver, sinto-a sempre presente, penso nela a cada instante, queria que ela assumisse o que sente por mim e me aceitasse, eu a amo tanto.
O que será que nos impede é difícil desistir de um amor, que já tem uma vida inteira... desde que a conheço que a quero de todo o coração. Já nos conhecemos tão bem, sei suas atitudes e seus caminhos, quando a vejo, não sinto meu corpo, o meu coração acelera, de maneira que nem parece bater. Uma alegria fora do comum me invade, e não há palavra que descrevam a felicidade que sinto quando estou ao seu lado. Sem ela nada faz sentido, a vida se torna vazia, como esta sala onde estou agora. Sentido apenas a sombra dela presente nas musicas, a saudade se mistura com tristeza, e nessa confusão, me perco em pensamentos, um enorme vazio me invade de forma rasgante.
Já mim acostumei com a solidão, mas não me conformo, em viver sozinho... Olho para os quatro cantos da sala, enquanto a musica ecoa pelo vazio, onde vivo. Do lado direito da minha poltrona, a vitrola em cima dos caixas falantes, mim faz companhia, nesses momentos, ao lado dela minha mesa de desenho que me serve também como escrivaninha, e de frente para mim, uma pequena e velha estante de livros, que já não me dizem nada.
Ao meu lado esquerdo junto à parede, um pouco distante de onde estou, há uma pequena coluna com um tabuleiro de xadrez em uma partida incompleta, e perto dele um quadro na parede. Quadro este que sempre prende a minha atenção, fico minutos contemplando seus detalhes, o autor eu desconheço, pois não vejo sua assinatura, ele retrata uma dama muito bem vestida e encantadora, sua beleza se destaca na delicadeza dos traços da pintura, ela esta encostada em uma coluna, com uma pena na mão, detalhe este que mais admiro e aprecio...
Contemplando o quadro, a figura dele de relance me lembrou a senhorita do jardim, pelo seu porte e elegância a única diferença é que a senhorita do jardim transmitia arrogância, e a do quadro é bem mais meiga e simpática...


Continua...

4 comentários:

  1. Eu amei!!!!
    É fascinante!!! Parabens e acho que vc deveria continuar a nos presentear com esses textos maravilhosos!!

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  2. Apesar da foto, o texto está legal. Parabéns!

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  3. Hum... eu acho que ja li.....lisim...kkk muito bom

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  4. Esta primeira parte do livro está muito bom, muito bom mesmo.

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