segunda-feira, 15 de abril de 2013

A Justiça de Deus no Evangelho*



Martinho Lutero (1483-1546)

Um dos maiores expoente da Reforma européia, Lutero é conhecido particularmente por sua doutrina justificação somente pela fé e por sua visão fortemente Cristocêntrica da revelação. Desse modo, defendeu que o perdão divino é um dom a ser aceito e não um prêmio a ser conquistado, ele liderou a Reforma Protestante, movimento religioso das primeiras décadas do século XVI. Sua “teologia da cruz” suscitou grande interesse no final do século XX. A publicação das Noventa e Cinco Teses em outubro de 1517 por Lutero costuma ser considerado o marco inicial da Reforma.

Falando sobre a Justiça de Deus, Lutero afirmou:

"Certamente desejava compreender Paulo aos Romanos. Mas o que me impedia de fazê-lo não era tanto uma timidez, mas sim, aquela frase no começo do primeiro capítulo: “A justiça de Deus se revela no evangelho”(Rm 1.17). Portanto eu detestava essa expressão “a justiça de Deus”, que me haviam ensinado a entender como a justiça pela qual Deus é justo e castiga os pecadores iníquos. 

Apesar de levar uma vida irrepreensível como monge, sentia que era um pecador com uma consciência inquieta diante de Deus. Também não podia crer que o havia agradado com minhas obras. Em vez de amar esse Deus justo que castigava os pescadores, na verdade eu o odiava... Estava desesperado para entender o que Paulo queria dizer nessa passagem. Por fim, meditei dia e noite acerca das palavras “a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” e comecei a entender que a “justiça de Deus” é aquela pela qual a pessoa justa vive pelo dom de Deus (fé) e que essa expressão “a justiça de Deus se revela” se refere a uma justiça passiva, pela qual o Deus misericordioso nos justifica pela fé, como está escrito, “o justo viverá pela fé”. 

Isso me fez sentir, no mesmo instante, como se tivesse nascido de novo, como se tivesse entrado pelas portas abertas do próprio paraíso. Daquele momento em diante, vi as Escrituras sob uma nova luz... E as palavras que eu antes detestava - “a justiça de Deus” - comecei a amar e exaltar como a mais doce das frases, de modo que essa passagem no texto de Paulo se tornou, para mim, a porta do paraíso."

Martinho Lutero

O que é Justificação?**

Justificação é um ato da livre graça de Deus em favor dos pecadores, pelo qual Ele nos perdoa todos os nossos pecados, e nos aceita como justos diante dele, não por causa de alguma coisa que nós fazemos, mas tão somente por causa da perfeita obediência e justiça de Cristo a nós imputada, atribuída, e recebida pela fé. É o ato de Deus pelo qual ele nos declara justificados, por meio de Cristo que morreu em nosso lugar.

Essa fé é uma graça salvadora produzida no coração do pecador pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus, pela qual ele - convicto de seu pecado e miséria e da incapacidade de ser restaurado da sua condição de perdido, tanto por si mesmo quanto pelas demais criaturas - não apenas crê a verdade da promessa do evangelho como também recebe e descansa em Cristo e na Sua justiça, ali ofertada, para o perdão dos pecados e para ser aceito e considerado justo à vista de Deus, para a salvação.

(Jo 16.8,9; At 16.30; 10.43; 15.11; Rm 3.21-28; 4.6; 5.8,18; 10.14,17; 1Co 12.3,9; 2Co 5.21; Gl 2.16; Ef 1.7,13; Fp 3.9; Hb 10.39)


________________________
*Teologia Histórica, Alister E. McGrath. Ed. Cultura Cristã, 2007. pp. 204,205
**Catecismo Maior de Westminster, Perguntas 70,72.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário