“Permita
o Senhor que nos envolvamos na contemplação de sua sabedoria celestial com
devoção real e crescente, para sua glória e para a nossa edificação. Amém.”[1]
A Oração É
O Principal Exercício Da Fé
E Por Meio
Dela Recebemos Os Benefícios De Deus[2]
João Calvino
Lugar da
oração no conjunto da vida cristã.
Como se vê claramente
quão necessitado está o homem e quão desprovido de todo bem, e como lhe falta os
meios necessários para encontrar sua própria salvação. Portanto, quando
procurar meios para remediar sua necessidade, deve sair de si mesmo, ir além e
buscá-lo em outra parte, para que ele obtenha o socorro necessário.
Também nos é demonstrado
que o Senhor amável e voluntariamente mostra-nos a Si mesmo em Cristo, em quem
Ele nos oferece toda felicidade no lugar de nossa miséria e toda classe de
riqueza em vez de pobreza, na qual Ele nos abre e apresenta os tesouros do céu,
afim de que pela fé ponhamos nossos olhos em Seu amado Filho, nos
convertendo em plena confiança n’Ele, para que nossa expectativa esteja sempre
n’Ele, e n’Ele descansemos, e apegando-se com toda esperança e dependência.
Esta, na verdade, é uma secreta e oculta filosofia que não pode se entender por
silogismos, mas somente a entendem e aprendem aqueles a quem Deus tem aberto os
olhos, para que vejam claro com sua luz.
Sabendo, pois, pela fé, e
por ela somos ensinados a conhecermos, que todo o bem que necessitamos,
carecemos e é indispensável, nos falta em nós mesmo e se encontra somente em
Deus e em nosso Senhor Jesus Cristo, em quem aprouve ao Pai que habitasse a
plenitude de sua bondade para que d’Ele tirássemos como de uma fonte
abundante e inesgotável, aquilo que tanto necessitamos busquemos n’Ele. E mediante
a oração lhe peçamos o que sabemos que provém d’Ele. Dessa maneira, conhecemos a
Deus como Soberano Senhor e dispensador de todo bem, que nos convida a lhe
apresentar nossas necessidades e desejos. Assim não nos dirigindo à Ele, ou não se aproximar d’Ele para pedir-lhe, é como se ouvíssemos falar que há um grande
tesouro disponível para nós e o deixássemos enterrado, como se a pessoa não
fizesse caso e deixasse escondido debaixo da terra esse benefício que lhe foi ensinado.
Por isso o Apóstolo,
para provar que não pode existir fé verdadeira sem que dela brote a oração, disse:
Como a fé nasce do evangelho, igualmente por ele somos instruídos à invocar a
Deus com todo o nosso coração. (Rm 10.14). E o mesmo foi descrito um pouco
antes, a saber, que o Espírito de adoção, o qual sela em nossos corações o
testemunho do Evangelho, nos concede disposição para fazermos nossas petições, elevando
a Deus os nossos desejos, movendo nossos corações com gemidos indizíveis, clamando
confiantemente: Abba, Pai (Rm
8.15,26).
Portanto, a oração é uma forma de
comunicação entre Deus e nós, pela qual colocamos diante Dele os nossos
desejos, as nossas alegrias, nossos problemas e dificuldades – em resumo, tudo o que está em
nosso coração. Sendo, assim, toda vez que invocarmos o Senhor devemos ter o
cuidado de descer às profundezas do nosso coração e falar-lhe dali, e não
apenas com a garganta e a língua... A oração verdadeira há de ser um movimento
puro de nosso coração em direção a Deus, devemos livrar-nos de todo pensamento
que gire em torno da nossa glória pessoal, de toda idéia de nossa dignidade
pessoal e de toda autoconfiança ou justiça própria, mas na imensa misericórdia
do Senhor, de modo que Ele atenda às nossas petições por amor a Si mesmo. Essa
consciência que temos da nossa extrema necessidade, de maneira nenhuma deve
deter-nos ou impedir-nos de nos aproximar de Deus. A oração não foi instituída
para que nos exaltemos arrogantemente diante de Deus, nem para que ostentemos a
nossa dignidade, mas sim para que admitamos a nossa fraqueza, chorosos como
criança que pedem a seu pai que faça algo acerca de seus problemas.[3]
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