segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Peregrino

John Bunyan
John Bunyan (1628-1688), escritor cristão e pregador puritano nascido em Harrowden vilarejo de Elstow, Inglaterra, escreveu "O Peregrino" quando estava preso tendo sido proibido de pregar.

O Peregrino é um clássico da literatura cristã, conhecido por cristãos do mundo todo, já foi traduzido para quase todas as línguas, ele foi escrito no séc. XVII por John Bunyan, sendo publicado pela primeira vez em 1678. O livro descreve a caminhada de Cristão, um homem que deixou a Cidade da Destruição rumo à Cidade Celestial. 



Capítulo 1*

Começa o sonho do autor – Cristão, convencido do pecado, foge à ira vindoura e Evangelista o dirige a Cristo.


Caminhando pelo deserto deste mundo, parei num sítio onde havia uma caverna; ali deitei-me para descansar. Em breve adormeci e tive um sonho. Vi um homem coberto de andrajos, de pé, e com as costas voltadas para a sua habitação, tendo sobre os ombros uma pesada carga e nas mãos um livro (Isaías 64:6; Lucas 14:33; Salmo 38:4; Habacuque 2:2). Olhei para ele com atenção e vi que abria o livro e o lia; e, à proporção que o ia lendo, chorava e estremecia, até que, não podendo conter-se por mais tempo, soltou um doloroso gemido e exclamou: “Que hei de fazer?” (Atos 2:37 e 16:30; Habacuque 1:2-3).

Neste estado voltou para sua casa, diligenciando reprimir-se o mais possível, a fim de que sua mulher e seus filhos não percebessem sua aflição. Como, porém, o seu mal recrudecesse, não pôde por mais tempo dissimulá-lo, e, abrindo-se com os seus, disse por esta forma:

“Querida esposa, filhos do coração, não posso resistir por mais tempo ao peso deste fardo que me esmaga. Sei com certeza que a cidade em que habitamos vai ser consumida pelo fogo do céu, e todos pereceremos em tão horrível catástrofe se não encontrarmos um meio de escapar. O meu temor aumenta com a idéia de que não encontre esse meio.”

Ao ouvir estas palavras, grande foi o susto que se apoderou daquela família, não porque julgasse que o vaticínio viesse a realizar-se, mas por se persuadir de que o seu chefe não tinha em pleno vigor as suas faculdades mentais.

E, como a noite se avizinhava, fizeram todos com que ele fosse para a cama, na esperança de que o sono e o repouso lhe sossegariam o cérebro. As pálpebras, no entanto, não se lhe cerraram durante toda a noite, que passou em lágrimas e suspiros.

Pela manhã, quando lhe perguntaram se estava melhor, respondeu negativamente, e que a moléstia cada vez mais o afligia. Continuou a lastimar-se, e a família, em lugar de se compadecer de tanto sofrimento, tratava-o com aspereza. Esperava, sem dúvida, alcançar por este modo o que a doçura não pudera conseguir até ali: algumas vezes zombavam dele; outras repreendiam-no;e quase sempre o desprezavam.

Só lhe restava o recurso de se fechar no seu quarto para orar e chorar a sua desgraça, ou o de sair para o campo, procurando na oração e na leitura lenitivo a tão indescritível dor.

Certo dia, em que ele andava passeando pelos campos, notei que se achava muito abatido de espírito, lendo, como de costume, e ouvindo-o exclamar novamente: “Que hei de fazer para ser salvo?”

O seu olhar desvairado volvia-se para um e outro lado, como em busca de um caminho para fugir; mas, não o encontrando de pronto, permanecia imóvel, sem saber para onde se dirigir.

Vi, então, aproximar-se dele um homem chamado Evangelista (Atos 16:30-31; Jó 33:23) que lhe dirigiu a palavra, travando-se entre ambos o seguinte diálogo:

Evangelista – Por que choras?

Cristão – (Assim se chamava ele). – Porque este livro me diz que eu estou condenado à morte, e que depois de morrer, serei julgado (Hebreus 9:27), e eu não quero morrer (Jó 16:21-22), nem estou preparado para comparecer em juízo! (Ezeq. 22:14).

Evangelista – E por que não queres morrer, se a tua vida é cheia de tantos males?

Cristão – Porque temo que este pesado fardo que tenho sobre os ombros, me faça enterrar ainda mais do que o sepulcro, e eu venha a cair em Tofete (Isaías 30:33). E, se não estou disposto a ir para este tremendo cárcere, muito menos para comparecer em juízo ou para esse suplício. Eis a razão do meu pranto.

Evangelista – Então, por que esperas, agora que chegaste a esse estado?

Cristão – Nem sei para onde me dirigir.

Evangelista – Toma e lê. (E apresentou-lhe um pergaminho no qual estavam escritas estas palavras: “Fugi da ira vindoura”). (Mateus 3:7).

Cristão – (Depois de ter lido). E para onde hei de fugir?

Evangelista – (Indicando-lhe um campo muito vasto). Vês aquela porta estreita? (Mateus 7:13-14).

Cristão – Não vejo.

Evangelista – Não avistas além brilhar uma luz? (Salmo 119:105; II Pedro 1:19).

Cristão – Parece-me avistá-la.

Evangelista – Pois não a percas de vista; vai direito a ela, e encontrarás uma porta; bate, e lá te dirão o que hás de fazer.
 

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*Trecho do livro "O Peregrino" de John Bunyan

 Continuação... Capítulo 2

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