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sábado, 7 de julho de 2012

O Pecado*

Thomas Watson



Nascido em 1620, Thomas Watson estudou em Cambridge (Inglaterra), onde se destacou por sua notável seriedade nos estudos. Em 1646, iniciou um pastorado de dezesseis anos em Londres. Neste ministério ele combinou considerável erudição com pregação popular. Em 1651, foi aprisionado com alguns outros ministros puritanos, tendo sido liberto em 30 de junho de 1652 e reintegrado formalmente ao púlpito de sua igreja.

Obteve grande fama e popularidade como pregador até à Restauração, quando, em decorrência do Ato de Uniformidade de 1662, foi expulso da igreja por causa de seu não-conformismo. Apesar do rigor das leis contra os dissidentes, Watson continuou a exercer seu ministério particularmente, quando encontrava oportunidade. Com a Declaração de Indulgência, ele obteve uma licença para pregar, o que fez por diversos anos, ministrando juntamente com Stephen Charnock.

Quando sua saúde decaiu, retirou-se para Barnston, em Essex, onde morreu repentinamente, enquanto orava em secreto. Foi sepultado em 28 de julho de 1686. Sua profunda espiritualidade, suas observações cativantes, suas ilustrações práticas e sua beleza de expressão o tornam um dos mais eminentes e irresistíveis puritanos. Ele é lembrado principalmente pelo seu Body of Pratical Divinity (Compêndio de Teologia Prática), publicado postumamente em 1692.

Esta obra, composta de sermões baseados no Breve Catecismo de Westminster, ainda era muito estimada no século XIX, provavelmente por causa da sua apresentação lúcida e sucinta do assunto. Spurgeon, descreve sua obra como “um conjunto oportuno de sã doutrina, experiência que sonda o coração e sabedoria prática”. O que temos a seguir é um pequeno resumo de um dos seus escritos.





O que é pecado?

Resposta: Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou a sua transgressão: “Pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3.4).





1.       Quanto ao pecado em geral

Quanto ao pecado geral, podemos fazer algumas observações:

a.      O pecado é uma transgressão ou violação

A palavra latina transgressor, transgredir, significa ultrapassar os limites. A lei moral deve nos manter dentro dos limites do dever. Pecado é ir além desses nossos limites.

b.      O pecado é contrário à perfeita lei de Deus

A lei de Deus não é a lei de um príncipe menor, mas de Jeová, aquele que dá as leis tanto aos anjos como aos homens. É uma lei justa, santa e boa (Rm 7.12). Ela é justa, não havendo nela nada inadequado; é santa, não se encontrando nela nada impuro; é boa, não contendo nada prejudicial. Portanto, não há razão para ser quebrada, assim como um animal, estando num lugar de gordas pastagens, não iria romper a cerca ou saltar para um deserto ou para um pântano.

2.        Quanto à odiosidade do Pecado

Vou mostrar que coisa odiosa e execrável é o pecado. Ele é a complexidade de todo o mal; é o espírito do mal destilado. A Escritura o chama de “coisas condenadas” (Js 7.13). É comparado ao veneno das serpentes e ao mau cheiro dos sepulcros. O apóstolo usa, para o pecado, a expressão “sobremaneira maligno” (Rm 7.13) ou, como no grego, “hiperbolicamente pecaminoso”. O diabo pode pintar o pecado com o vermelho vivo do prazer e do lucro, pode fazê-lo parecer com o belo; mas devo arrancar a pintura, de modo que você veja a feia face do pecado. Nossa tendência é ter pensamentos triviais sobre o pecado dizendo dele como Ló a respeito de Zoar: “porventura não é pequena?” (Gn 19.20). Porém, para se perceber quão grande é um pecado maligno, considere estas quatro explanações a seguir:

a.      A origem diabólica do pecado

A origem diabólica do pecado, seja de onde vier, é diabólica. Ela traz seu pedigree do inferno; o pecado é do diabo: “Aquele que pratica o pecado procede do diabo” (1Jo 3.8). Satanás foi o primeiro protagonista do pecado, o primeiro tentador a pecar. O pecado é o primogênito do diabo.

b.      A natureza maligna do pecado

O pecado é maligno em sua natureza. Considere o seguinte em relação a ele:

i.      O pecado é algo que corrompe.  O pecado não é somente uma apostasia, mas uma corrupção. É para o espírito como a ferrugem para o ouro, e como uma mancha para a beleza. Ele deixa a alma rubra com a culpa e negra com a torpeza. O pecado, nas Escrituras, é comparado a uma “coisa imunda” (Is 30.22) e a uma “chaga do seu coração” (1Rs 8.38). As vestes sujas de Josué, com as quais se apresentou diante do anjo, eram nada mais que um tipo e um hieróglifo do pecado (Zc 3.3). O pecado tem desonrado a imagem de Deus, além de macular o brilho precioso da alma. Ele faz Deus abominar o pecador (Zc 11.8)[1] e quando um pecador percebe seu pecado ele abomina a si próprio (Ez 20.43).

O pecado verte veneno em nossas boas obras e infecta nossas orações. O sumo sacerdote deveria fazer expiação dos pecados no altar, tipificando que nossos cultos mais sagrados precisam de Cristo para expiá-los (Êx 29.36). As obrigações da religião, por si mesmas, são boas, porém o pecado as corrompe, assim como a água mais pura é contaminada ao correr sobre um solo barrento. Se o leproso, sob a lei, tocasse o altar, não ficaria limpo, mas ele teria profanado o altar.[2] O apóstolo chama o pecado de “impureza, tanto da carne como do espírito” (2Co 7.1). O pecado imprime a imagem do diabo no homem. A malícia é o olho do diabo; a hipocrisia, seus pés fétidos. Ele transforma o homem em um diabo: Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo” (Jo 6.70).

ii.    O pecado entristece o Espírito. O pecado entristece o Espírito de Deus: “E não entristeçais o Espírito de Deus” (Ef 4.30). Entristecer é mais que enraivecer.

Como o Espírito pode dizer que está entristecido? Porque, sabendo que ele é Deus, não pode estar sujeito a nenhuma paixão.

Isso é uma metáfora. O pecado entristece o Espírito porque é uma injúria causada ao Espírito, este não a recebe bondosamente e, por assim dizer, deposita-a no coração. Isso não é mais que entristecer o Espírito? O Espírito Santo desceu na forma de uma pomba e o pecado causou o lamento dessa pomba abençoada. Ainda que fosse somente um anjo, não deveríamos entristecê-lo, muito menos o Espírito de Deus. Não é lamentável entristecermos nosso Consolador?[3]

iii.  O pecado é rebeldia contra Deus. É um ato rebelde contra o Criador, um caminhar em direção oposta ao céu: “Se... andardes contrariamente comigo” (Lv 26.27). Um pecador tripudia sobre a lei de Deus, contraria a sua vontade, faz tudo que pode para afrontar, sim, para ofender a Deus. A palavra hebraica para pecado, ‘pasha’, significa rebelião. Em todo pecado existe um cerne de rebeldia: “Antes, certamente toda a palavra que saiu da nossa boca, isto é, queimaremos incenso à Rainha dos Céus... como temos feito” (Jr 44.17). O pecado atenta contra a verdadeira divindade: o pecado é o hipotético assassino de Deus. O pecado não só gostaria de desentronizar Deus, mas de desdivinizá-lo. Se o pecador pudesse fazê-lo, Deus não seria mais Deus. 

iv.  O pecado é um ato cruel de falsidade. O pecado é um ato de falsidade e de crueldade. Deus alimenta o pecador, mantém os demônios longe dele, realiza nele milagres com misericórdia. Porém, o pecador não somente esquece as misericórdias de Deus como, ainda, as condena. Ele é o que há de pior para a misericórdia, como Absalão que, na condição de filho de Davi, havia beijado o pai, obtendo, assim, seu favor, e planejou traí-lo (2Sm 15.10). Como mula, que escoiceia a própria mãe após mamar o leite: “É assim a tua fidelidade para com o teu amigo?” (2Sm 16.17). Deus pode repreender o pecador. “Dei-te”, ele pode dizer, “saúde, força e posição; mas retribuíste mal por bem, feriste-me com minhas próprias misericórdias; é esta a tua fidelidade para com o teu amigo? Dei-te vida para que pecasses? Dei-te recompensas para que servisses ao diabo?”(Dei-te inteligência para usares para o mal? Como ele disse ao povo de Israel por meio do profeta Isaias: “Criei filhos e os engrandeci mas eles estão revoltados contra mim...” Is 1.2 ).

v.    O pecado é uma doença terrível. O pecado é uma doença: “Toda cabeça está doente” (Is 1.5). Alguns estão doentes de orgulho, outros de luxúria, outros de inveja. O pecado causa indisposição à parte intelectual, é como uma lepra na cabeça, ele envenena os órgãos vitais: por que a consciência dele está corrompida (Tt 1.15). Acontece com o pecador o mesmo que com uma pessoa doente: seu paladar fica indisposto: as coisas mais doces têm sabor amargo. A expressão “mais doces do que o mel” (Sl 19.10) tem sabor amargo para ele, troca “o doce, por amargo” (Is 5.20). Isso é uma doença (que vai piorando como o câncer, a pessoa vai se afastando mais e mais da Palavra de Deus) e nada pode curá-la, a não ser o sangue do médico (Jesus).

vi.  O pecado é uma coisa irracional. Ele não faz apenas o homem agir perversamente, mas também loucamente. É absurdo e irracional preferir o menos ao mais, os prazeres da vida aos rios de prazeres à mão direita de Deus perpetuamente. Não é irracional perder o céu pela satisfação da luxúria? Como Lisímaco[4], que perdeu um reino por causa de um gole d’agua. Não é irracional contentar um inimigo? No pecado, fazemos tudo isso. Quando a luxúria ou a ira imprudente queimam na alma, o próprio Satanás se aquece nessas chamas. Os pecados dos homens são um banquete para o diabo.

vii.    O pecado é algo doloroso. Custa muito trabalho aos homens andar atrás de seus pecados. Como se cansam servindo ao diabo. “Casam-se de praticar a iniqüidade” (Jr 9.5). Quanta dor Judas teve de suportar por sua traição. Ele vai ao sumo sacerdote, depois segue atrás do bando de soldados, e, então, finalmente volta ao jardim.[5] Crisóstomo diz: “A virtude é mais suave que o vício”. É mais doloroso para alguns seguirem após os próprios pecados do que, para outros, outros adorarem a Deus. Enquanto sofre dores de parto com seu pecado, o pecador à luz com pesar, como dito em Tito 3.3: “escravos de toda sorte de paixões”. Não têm prazer, mas servem. Por quê? Não só por causa da escravidão do pecado, mas também pelo grande labor, é isso que significa “escravos de toda a sorte de paixões”. Muitos homens vão para o inferno com suor da testa.

viii.   O pecado é odiado por Deus. Pecado é a única coisa contra a qual Deus tem antipatia. Deus não odeia o homem porque ele é pobre ou desprezado no mundo, da mesma maneira como não podemos odiar nosso amigo porque ele está doente. Porém, o que aguça o ódio de Deus é o pecado. “Não façais esta coisa abominável que aborreço” (Jr 44.4). E, certamente, se o pecador morrer sob a ira de Deus, não será admitido nas mansões celestiais. Deus deixará o homem viver com ele, este a quem abomina? Deus jamais colocará uma víbora (cobra venenosa) em seu colo. As penas da águia não se misturarão com as penas de outras aves; da mesma maneira, Deus não se misturará ou se associará com um pecador. Até que o pecado seja tirado, não há como chegar onde Deus está.

c.       O preço pago pelo pecado

         Observe a perversidade do pecado no preço pago por ele. Foi necessário o sangue de Deus para expiá-lo. “Ó homem” – disse Agostinho, “considera a magnitude do teu pecado pela magnitude do preço pago por ele”. Todos os príncipes na terra, ou anjos no céu, não poderiam satisfazer o pecado, mas somente Cristo. Mais ainda, a obediência ativa de Cristo não foi suficiente para expiação do pecado, ele teve de sofrer sobre a cruz por que sem derramamento de sangue não há remissão (Hb 9.22). Que coisa amaldiçoada é o pecado, tanto que Cristo precisou morrer por ele. A perversidade do pecado não pode ser vista nas centenas de pessoas que foram amaldiçoadas por ele, mas no fato de que, por ele, Cristo morreu.

d.      Os trágicos efeitos do pecado

O pecado é maligno em seus efeitos. Considere o seguinte:

i.      O pecado nos fez decair de nossa honra. Rúben, por causa de um incesto, perdeu sua dignidade; embora fosse o primogênito, não poderia ser o mais excelente (Gn 49.4). Deus nos fez à sua imagem, um pouco menor que os anjos; porém, o pecado nos degradou. Antes de pecar, Adão era como um arauto fardado que levava um brasão: todos o reverenciavam porque vestia a farda com o brasão do Rei. Porém, bastou retirar o brasão e ele foi desprezado: ninguém lhe dava mais atenção. O pecado fez isso: arrastou nossa capa de inocência e, então, nos rebaixou, transformou nossa glória em vergonha: “Depois, se levantará em seu lugar um homem vil” (Dn 11.31). Essas palavras foram ditas a respeito de Antíoco Epifânio[6], um rei cujo nome significa ilustre, até que o pecado o degradou, transformando-o numa pessoa vil.

ii.    O pecado perturba a paz do espírito. Tudo o que desonra, transforma. Como um veneno tortura as entranhas, deteriora o sangue, assim o pecado age no espírito (Is 57.21). O pecado produz receio e temores no coração e o “medo produz tormento” (1Jo 4.18). O pecado gera espasmos de pecar na consciência. Judas estava tão aterrorizado com culpa e com horror que se enforcou para aquietar a consciência. E não foi desejando ser curado do mal que se jogou no inferno em busca de alívio?

iii.  O pecado produz perversidade. O pecado produz todo tipo de perversidade mundana: “Jerusalém pecou gravemente; por isso, se tornou repugnante” (Lm 1.8). É o cavalo de Tróia, que tem a espada, a fome e a pestilência em seu ventre. O pecado é como o carvão, que não só escurece, mas queima. O pecado cria todas as aflições; põe pedregulhos em nosso pão, amargor em nosso cálice. O pecado apodrece o nome, destrói a posição, enterra os relacionamentos. O pecado arremessa o rolo voador das maldições de Deus sobre sua família, sobre seu reino (Zc 5.4). É o que se diz do imperador Focas[7], que tendo construído um muro fortíssimo ao redor de sua cidade, ouviu uma voz dizendo: “Há pecado na cidade, e isso destruirá o muro”.

iv.  O pecado traz condenação eterna. Pecado não arrependido traz a condenação eterna. O cancro que se desenvolve na rosa é a causa de sua morte; as corrupções que se desenvolve, na alma dos homens são a causa de sua condenação. O pecado, sem arrependimento, traz a “segunda morte”, que é “a morte sempre agonizante”, conforme Bernardo (Ap 20.14). O prazer do pecado se transformará, no final, em pesar, como o livro que o profeta comeu, doce na boa, mas amargo no ventre (Ez 3.3; Ap 10.9). O pecado traz a cólera de Deus, e qual balde ou aparato apagar tal fogo? “Onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” (Mc 9.44).

Aplicações

                Primeira aplicação: Observe quão mortífero é um pecado maligno, e como é surpreendente que alguém possa amá-lo. “Até quando... amareis a vaidade?” (Sl 4.2). “Embora eles olhem para outros deuses e amem bolos de passas” (Os 3.1). O pecado é uma iguaria da qual os homens não conseguem se abster, embora lhes faça mal. Quem lavaria uma pocilga com água de rosas? Que lástima que uma afeição tão doce como o amor seja colocada sobre uma coisa tão imunda como o pecado. O homem ama o pecado que lhe cause uma ferroada na consciência e lhe traga uma maldição. Um pecador é aquele que mais se autocontradiz; por causa de seu pecado nega a si mesmo uma parte do céu.

                Segunda aplicação: Faça outra coisa em vez de pecar. Odeie o pecado. Há mais malignidade no menor pecado que na maior possessão maligna que pode se manifestar para nós. O arminho[8] prefere morrer a sujar sua linda pelagem. Há mais malignidade numa gota de pecado que num mar de aflição. A aflição é apenas um rasgão num casaco, já o pecado é como uma pontada no coração. Na aflição há algo de bom – nesse leão há algum mel. “Foi-me bom ter eu passado pela aflição” (Sl 119.71). Agostinho disse: “A aflição é o malhar de Deus para debulhar nossas cascas; não para consumir, mas para refinar”. Não há nada de bom no pecado, ele é o espírito e a quintessência do mal. O pecado é pior que o inferno, pois as dores do inferno são um fardo somente para a criatura; porém, o pecado é um fardo para Deus.

                Terceira aplicação: O pecado é um mal muito grande! Então, deveríamos ser gratos a Deus, se retirou nosso pecado. “Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniqüidade” (Zc 3.4). Se você fosse portador de uma doença, praga ou hidropisia quão agradecido seria se ficasse curado. Mais ainda quanto a ficar livre do pecado, com a graça mortificadora. Agradeça porque essa doença não “é para morte”; porque Deus transformou sua natureza e, pelo enxerto em Cristo, fez de você um participante de doçura da oliveira; porque o pecado, embora viva, não reina; porque o mais velho serve ao mais novo; o pecado (o mais velho) serve à graça (a mais nova).


* A Fé Cristã: Estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster, Thomas Watson, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2009. pp. 162-167. (Este livro vale a pena ser lido e adquirido, pois traz reflexões práticas das doutrinas bíblicas).


[1] (Zacarias 11.1-17) “Abre, ó Líbano, as tuas portas, para que o fogo consuma os teus cedros. Geme, ó cipreste, porque os cedros caíram, porque as mais excelentes árvores são destruídas; gemei, ó carvalhos de Basã, porque o denso bosque foi derribado. Eis o uivo dos pastores, porque a sua glória é destruída! Eis o bramido dos filhos de leões, porque foi destruída a soberba do Jordão! Assim diz o SENHOR, meu Deus: Apascenta as ovelhas destinadas para a matança. Aqueles que as compram matam-nas e não são punidos; os que as vendem dizem: Louvado seja o SENHOR, porque me tornei rico; e os seus pastores não se compadecem delas. Certamente, já não terei piedade dos moradores desta terra, diz o SENHOR; eis, porém, que entregarei os homens, cada um nas mãos do seu próximo e nas mãos do seu rei; eles ferirão a terra, e eu não os livrarei das mãos deles. Apascentai, pois, as ovelhas destinadas para a matança, as pobres ovelhas do rebanho. Tomei para mim duas varas: a uma chamei Graça, e à outra, União; e apascentei as ovelhas. Dei cabo dos três pastores num mês. Então, perdi a paciência com as ovelhas, e também elas estavam cansadas de mim. Então, disse eu: não vos apascentarei; o que quer morrer, morra, o que quer ser destruído, seja, e os que restarem, coma cada um a carne do seu próximo. Tomei a vara chamada Graça e a quebrei, para anular a minha aliança, que eu fizera com todos os povos. Foi, pois, anulada naquele dia; e as pobres do rebanho, que fizeram caso de mim, reconheceram que isto era palavra do SENHOR. Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata. Então, o SENHOR me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do SENHOR. Então, quebrei a segunda vara, chamada União, para romper a irmandade entre Judá e Israel. O SENHOR me disse: Toma ainda os petrechos de um pastor insensato, porque eis que suscitarei um pastor na terra, o qual não cuidará das que estão perecendo, não buscará a desgarrada, não curará a que foi ferida, nem apascentará a sã; mas comerá a carne das gordas e lhes arrancará até as unhas. Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho! A espada lhe cairá sobre o braço e sobre o olho direito; o braço, completamente, se lhe secará, e o olho direito, de todo, se escurecerá.

[2] Se um ímpio entra em aliança com um servo de Deus, ele não ficará limpo, mas contaminará ‘o templo e morada do Espírito Santo que sós vós’. Pois, o que é um ímpio para Deus? senão um inimigo seu, e como faremos aliança com um inimigo do nosso Deus? o que devemos esperar do Senhor, se formos rebeldes a sua Santa Palavra? Um dos pecados que trouxe o dilúvio decorreu dessa união dos filhos de Deus com os filhos dos homens, ou seja, daqueles que adoravam à Deus, com aqueles que não, esse também foi um dos graves pecados de Salomão, quando se uniu com mulheres que não adoravam o Deus de Israel, e também um dos pecados pelo qual o povo foi levado ao cativeiro babilônico, trazendo assim calamidades sobre todo os seus filhos. O leproso contaminaria não apenas o objeto mais também a essência espiritual da adoração.

[3] Que o Senhor nosso Deus diga de nós o que disse de seu servo Jó, homem justo que se desvia do mal de Deus, e como disse de Cristo eis o meu filho amado em quem me comprazo, ou seja, em quem tenho prazer, pois como o apóstolo Paulo disse: “somos imitadores de Cristo”, e a palavra cristão que quer dizer? Senão “pequenos cristos” dando o sentido de que o cristão deve ser uma cópia submissa de Cristo, que um dia possa-se dizer de nós, o que ficou registrado na carta aos hebreus, “homens que o mundo não era digno”, portanto, vivamos acima de tudo, de modo digno do evangelho”.

[4] Lisímaco (c. 360-281 a.C.) foi um oficial grego da região da Tessalônica de Alexandre, o Grande, e um dos generais que dividiram o império após a sua morte, reinando, a partir de 306 a.C., na Trácia e na Ásia Menor (N. do E.).

[5] O pecado sempre desaponta no final, Judas correu tanto, teve tanto trabalho para pecar e o no final o desgosto foi tão grande que ele jogou as moedas no chão e teve maior prejuízo para sua vida.

[6] Antíoco Epifânio (c. 215-262 a.C. foi um rei da dinastia selêucida que governou a Síria entre 175 e 164 a.C. (N. do E.).

[7] Flávio Focas Augusto, imperador de Bizâncio (602-610 d.C.), sucedeu o imperador Mauricio, e foi derrubado por Heráclio depois de ter sido derrotado em uma guerra civil (N. do E.).

[8] O Arminho (Mustela erminea) é um carnívoro mustelídeo de pequeno porte pertencente ao grupo das doninhas. No Inverno o arminho possui uma pelagem branca, na Europa medieval e renascentista era visto como símbolo de pureza. As representações alegóricas de arminhos na Europa incluem frequentemente o motto latinoMalo Mori Quam Foedari”, que se pode traduzir como “Antes a morte que a desonra”, numa alusão à suposta preferência do animal pela morte quando deparado com a possibilidade de sujar a sua pelagem. Alguns exemplos conhecidos de arminhos enquanto símbolos de pureza incluem um quadro de Leonardo da Vinci (imagem) e um retrato de Isabel I da Inglaterra, onde a rainha-virgem aparece representada com um arminho no colo.

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