DÍZIMOS E OFERTAS [1]
A Manutenção da Igreja e seus Ministros
O dispensacionalismo a partir do
séc. XIX, resgatou o antinomismo (anti-lei) e com ele o desprezo pelo Antigo
Testamento, criando assim um tipo de SolaNew, como se Jesus e os apóstolos
tivessem abolido o AT. É verdade que eles usaram constantemente o AT para
mostrar como as promessas messiânicas e cerimoniais se cumpriram em Cristo, mas
não somente isso, outros preceitos também foram destacados por eles.
Quando se fala sobre o dízimo, a argumentação geralmente é:
1. AT e Lei.
Que era coisa do Antigo Testamento e da Lei. Contudo, o dízimo é algo anterior a Lei dada a Moisés. Abraão deu o dízimo a Melquisedeque, o reconhecendo como sacerdote de Deus. O autor aos Hebreus afirma que o sacerdócio de Cristo é dessa ordem, ou seja, anterior ao sacerdócio levítico mosaico (Gn 14.18-20; Hb 5.1-10; 6.20; 7).
2. Templo e Imposto para o Reino.
No evangelho, “daí a Cesar o que é de Cesar (imposto), a Deus o que é de Deus (Adoração e Dízimo)", teríamos a separação da manutenção do reino civil e da adoração? O que muitos aplicam a anulação do dízimo, contudo, os dízimos e ofertas para manutenção da adoração também era ordenada por Deus.
Não pretendemos ser exaustivo
tratando as nuanças e aplicações da esfera civil e a “casa do tesouro” e instituições de Israel, o que poderemos fazê-la
em uma segunda parte sobre o assunto em breve. Nosso foco aqui será mais
pontual, a manutenção do Templo e seu sacerdócio. Considerando ainda que havia
vários tipos de ofertas na adoração, distribuídas em três categorias (Lv 1-8;
14; 16):
1. Consagração: Holocausto, oferta de animal sacrificado e
queimado ao SENHOR e Manjares, cereais e pão, uma porção era queimada e o
restante dado ao sacerdote no Templo.
2. Comunhão: Pacíficas, sacrifício animal, cereais e bolos
oferecidos ao SENHOR e distribuído ao ofertante e sua família, comida da
aliança, simbolizando a união com Deus.
3. Expiação: Pela culpa e pecado, sacrifícios de animais. (GENEBRA, 2a Ed. pág.
150)
Além das ofertas de restituição,
resgate e primogenitura, e as relacionadas aos votos (Êx 30.11-16; Lv 7.16;
22.23; 27.16-27; Nm 3.40-51; 6.1-21; At 21.23-24), bem como as voluntárias
contextuais e específicas, como no caso da construção do Tabernáculo e seus
utensílios (Êx 25; 35.4-29). Os dízimos e ofertas não eram dadas apenas em
animais, cereais e objetos, como afirmam alguns, mas também em dinheiro,
espécies de metais (cobre, prata e ouro), que eram pesados e usados como moedas
comerciais, como pode ser visto no contexto da criação do gazofilácio, uma
caixa com um furo em cima. (2Rs 12.1-19; Mc 12.41-44; Lc 21.1-4; Jo 8.20).
Pode se afirmar que a Igreja
substitui o Templo em sua atividade cúltica e sacerdotal através dos apóstolos
e líderes da igreja, que conduzem a adoração em torno do sacrifício de Cristo,
nosso cordeiro? Seria uma mera coincidência que Jesus tenha escolhido 12
apóstolos, uma equivalência as 12 tribos e que o livro de apocalipse mencione
24 anciãos? Curioso ainda é o fato dessa
matemática eclesiástica 12 + 12 = 24, e 12 x 12 = 144, a expressão “mil” no contexto, é usada como
superlativo de milhares, incontável “como
a areia do mar” (Ap 7.1-10), significando assim, a totalidade do povo de
Deus, expressão equivalente à “todo
Israel” presente na Nova Jerusalém. (ver
HENDRIKSEN)
Outra questão interessante é o
fato, da Cidade Santa ter 12 portas com os nomes das 12 tribos, e suas
disposições ao redor do Tabernáculo, e a própria cidade celeste ser chamada de
Tabernáculo de Deus com os homens, e ter como fundamento 12 pedras com o nome
dos 12 apóstolos, sobre os quais o muro da cidade é edificado, a partir da
pedra angular que é Cristo (Ap 21.9-27), além da medida do muro da cidade 144 (mil) e ela ser medida por uma vara até 12mil estádios (vs. 16-17).
A palavra edificação também
desperta atenção, porque os apóstolos Paulo e Pedro chamam a igreja de edifício
e lavoura (nosso Senhor Jesus chamou de
seara e arado, assim tomamos o seu jugo sem olhar para trás, Lc 9.62; 10.2; Mt
11.28-30), e os crentes de pedras vivas, povo sacerdotal do Rei (1Co 3.9;
1Pe 2.5, 9-10 aplicando Dt 7.6; 14.2)
.Outro fato curioso, é que as doze tribos também eram representados por pedras
no peitoral do sumo sacerdote. Esses fatos não constituem meras alegorias, mas
figuras coerentes da eclesiologia e teologia bíblica.
Essas questões não nos apresentam
uma continuidade progressiva do templo e igreja, e continuidade ao invés do
rompimento total com a antiga estrutura? Se a igreja é a representante e agencia
do reino de Deus, não seria justo investir na sua manutenção e de seus
ministros? O que o ensino apostólico diz a respeito?
O apostolo Paulo cita
Deuteronômio 25.4 “Não atarás a boca ao
boi quando debulha.” quando trata da questão da manutenção pastoral, seu
direito e abnegação:
"Devem ser considerados merecedores
de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os
que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não amordaces
o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu
salário." (1Tm 5.17-18)
"Não sou eu, porventura, livre? Não
sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho
no Senhor? Se não sou apóstolo para
outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu
apostolado no Senhor. A minha defesa perante os que me interpelam é esta: não
temos nós o direito de comer e beber? E também o de fazer-nos acompanhar de uma
mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e
Cefas? Ou somente eu e Barnabé não temos
direito de deixar de trabalhar? Quem jamais vai à guerra à sua própria custa?
Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não
se alimenta do leite do rebanho? Porventura, falo isto como homem ou não o diz
também a lei? Porque na lei de Moisés
está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois
que Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por
nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa
o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. Se nós vos
semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?
Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida?
Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos
qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo.
Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se
alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam
o evangelho que vivam do evangelho." (1Co 9.1-14; cf. Mt 10.9; Lc 10.7
quando Jesus enviou seus discípulos).
Os apóstolos deixaram suas
atividades (Lc 18.28; Mt 9.9). O próprio apóstolo Paulo, deixou sua condição e
status social. Considerando ainda que o apóstolo Paulo fosse um apóstolo
itinerante o missionário itinerante. Trabalhava com couros “fazia tenda”, trabalhava com utensílios de couro, bolsas, túnicas,
capas, etc. Todo judeu aprendia alguma profissão para casos de calamidades e
dificuldades, como eram muito comum naquela época, as guerras e perseguições
eles precisavam fugir constantemente. Ele declara que
abriu mão de outras igrejas recebendo salário, e que estava em Corínto
padecendo por amor e para dá exemplo aos irmãos, mesmo essa condição sendo
motivo de vergonha para eles, o apóstolo estava procurando dá exemplo além de
combater um problema local e contextual, pois, nessa cidade havia muitos
aproveitadores e falsos profetas, sustentados pela própria igreja (1Co 4.11-13; 2Co
11.7-15).
O que não revoga o fato de que o
salário além de ordenado nas Escrituras é também dito que seja pago em dia,
especialmente se não houver motivos justos para ser retidos ou atrasados: (Lv
19.13; Dt 24.14-15; Tg 5.4-6)
"Não oprimirás o teu próximo, nem o
roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã." (Lv 19.13)
"Não oprimirás o jornaleiro pobre e
necessitado, seja ele teu irmão ou estrangeiro que está na tua terra e na tua
cidade. No seu dia, lhe darás o seu salário, antes do pôr-do-sol, porquanto é
pobre, e disso depende a sua vida; para que não clame contra ti ao SENHOR, e
haja em ti pecado." (Dt 24.14-15)
Jornaleiro é todo aquele que executa uma jornada de trabalho. "Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida." (Rm 4.4). Sabemos que existe momentos de crises e dificuldades afetando todos os homens de alguma forma, independente de suas condições e posições sociais, nesses tempos há senhores que fazem de tudo para honrar seus compromissos, se preocupando com os que dependem dele, pois, quando se aumenta os bens, aumentam os que deles comem, e que o dinheiro nunca é suficiente. (Ec 5.10-11)
Ao falar das riquezas mal
adquiridas e possuídas trazem o juízo de Deus, Tiago compara os pagamentos
retidos com fraude ou atrasos sem justificativa aos maustratos, pois enquanto o pobre
padecia suplicando ao Senhor, alguns esbanjavam em seus prazeres:
"Eis que o salário dos trabalhadores
que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está
clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos
Exércitos. Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos
prazeres; tendes engordado o vosso coração, em dia de matança; tendes condenado
e matado o justo, sem que ele vos faça resistência." (Tg 5.4-6)
"Condenado e matado. Isso pode ser tomado de modo
literal ou figurado. Uso injusto do poder pode verdadeiramente ter causado
execução de pessoas inocentes. Figuradamente, privar um homem no seu salário é
cometer um tipo de assassinato contra ele." (GENEBRA). Em seguida ele lembra da volta de
Cristo e anima os que sofrem a perseverar firme e pacientemente considerando o
sofrimento semelhante de outros santos homens de Deus. (vs 7-11)
A negligência com a manutenção
dos sacerdotes foi um dos pecados nos dias de Neemias, eles tiveram que sair em
busca de outros recursos e provisão para suas famílias, o que resultou num
abandono temporário de suas funções, pois os sacerdotes e suas famílias comiam
dos recursos do templo (Ne 12.44-47; 13.10-14; cf. Dt 12.15-19; 1Sm 1.1-8).
De como comer a carne e as ofertas
"Porém, consoante todo desejo da tua
alma, poderás matar e comer carne nas tuas cidades, segundo a bênção do SENHOR,
teu Deus; o imundo e o limpo dela comerão, assim como se come da carne do corço
e do veado. Tão-somente o sangue não comerás; sobre a terra o derramarás como
água. Nas tuas cidades, não poderás comer o dízimo do teu cereal, nem do teu
vinho, nem do teu azeite, nem os primogênitos das tuas vacas, nem das tuas
ovelhas, nem nenhuma das tuas ofertas votivas, que houveres prometido, nem as
tuas ofertas voluntárias, nem as ofertas das tuas mãos; mas o comerás perante o
SENHOR, teu Deus, no lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher, tu, e teu filho, e
tua filha, e teu servo, e tua serva, e o levita que mora na tua cidade; e
perante o SENHOR, teu Deus, te alegrarás em tudo o que fizeres. Guarda-te, não desampares o levita todos os
teus dias na terra." (Dt 12.15-19)
A manutenção dos sacerdotes e levitas
"Ainda no mesmo dia, se nomearam
homens para as câmaras dos tesouros, das ofertas, das primícias e dos dízimos,
para ajuntarem nelas, das cidades, as porções designadas pela Lei para os
sacerdotes e para os levitas; pois Judá estava alegre, porque os sacerdotes e
os levitas ministravam ali; e executavam o serviço do seu Deus e o da
purificação; como também os cantores e porteiros, segundo o mandado de Davi e
de seu filho Salomão. Pois já outrora,
nos dias de Davi e de Asafe, havia chefes dos cantores, cânticos de louvor e
ações de graças a Deus. Todo o Israel,
nos dias de Zorobabel e nos dias de Neemias, dava aos cantores e aos porteiros
as porções de cada dia; e consagrava as coisas destinadas aos levitas, e os
levitas, as destinadas aos filhos de Arão." (Ne 12.44-47)
Restaurada a manutenção dos levitas
"Também soube que os quinhões dos
levitas não se lhes davam, de maneira que os levitas e os cantores, que faziam
o serviço, tinham fugido cada um para o seu campo. Então, contendi com os magistrados e disse:
Por que se desamparou a Casa de Deus? Ajuntei os levitas e os cantores e os
restituí a seus postos. Então, todo o
Judá trouxe os dízimos dos cereais, do vinho e do azeite aos depósitos. Por tesoureiros dos depósitos pus Selemias, o
sacerdote, Zadoque, o escrivão, e, dentre os levitas, Pedaías; como assistente
deles, Hanã, filho de Zacur, filho de Matanias; porque foram achados fiéis, e
se lhes encarregou que repartissem as porções para seus irmãos. Por isto, Deus meu, lembra-te de mim e não
apagues as beneficências que eu fiz à casa de meu Deus e para o seu
serviço." (Ne 13.10-14)
Em seguida foi restaurada a
observação da adoração no dia do SENHOR. (vs. 15-22)
Considerado ainda o que foi dito
dos tipos de ofertas citados no início, o povo também participava e desfrutava
das ofertas entregues ao SENHOR e não apenas os sacerdotes e levitas que
trabalhavam no templo. Isso acontecia, tanto através da comunhão, como nos
serviços de caridade, diaconia. Isso é mencionado também no contexto do culto
nos dias de Neemias, onde a adoração termina com um envio e uma exortação para
que se lembrem dos pobres e se levasse porções para os que não têm nada
preparado para si (Ne 8.1-12). Essa atitude ainda pode ser vista nas liturgias
dos reformadores do Séc. XVI, quando havia uma oferta destinada especialmente
para os necessitados.
No Novo Testamento a ação social
era claramente atuante e eficiente especialmente nos casos de dificuldades e
momentos de calamidades sociais. Foram os casos mencionados em Atos e no texto
mais citado para ofertas destinadas aos pobres da igreja em Jerusalém, “Cada um contribua com o coração...”(At
2.42-47; 4.32-35; 6.1-7; 2Co 8.1-15; 9.5-15 cf.
Rm 15.26; Sl 112.7).
A generosidade e caridade são
mencionadas aqui, especialmente pela oferta enviada, da igreja de Corínto - Macedônia e Acaia, à
igreja em Jerusalém. Contudo, a questão dos dízimos traz consigo outros
princípios igualmente importantes, a gratidão por tudo que Deus nos dá, e uma
provação de fidelidade ao SENHOR, e, do SENHOR mesmo “provai-me e vede...” (Ml 3.8-10).
Será que Deus abriria os céus
apenas para seu povo do Antigo Testamento, ou estava apenas interessado em sua
obra e adoração somente no passado? Ou a igreja hoje, não pode ser considerada
Casa de Oração? O apostolo a chamou de Templo e Baluarte da Verdade,
coletivamente o “corpo” de Cristo, com muitos membros, a quem os apóstolos
escreveram e o próprio Senhor Jesus enviou cartas, e não apenas a indivíduos
isolados em suas casas.
Em outras ocasiões a obra do
Senhor também ficou sem receber a devida atenção como nos dias do profeta Ageu,
o resultado era dificuldades mesmo diante de muito trabalho (Ag 1).
Certo que existe aqueles que sem
santa vocação buscam o ofício por “sórdida
ganância, avareza e amor ao dinheiro”. Contudo, também há muitos pastores
que exercem sua vocação sem constrangimento (1Tm 3.8; 1Pe 5.2), mesmo com um
acúmulo de funções; professor, administrador, gerente, psicólogo, etc. Ainda há
o fato de muitos sacerdotes assumirem as preocupações financeiras da igreja, as
dívidas, os pagamentos.* Os pastores são chamados a dedicação e fadiga no
estudo e no ensino, e a igreja é chamada a honrar seus líderes para que eles
não exerçam seu chamado com pesar (1Tm 2.13-16; 5.17; Hb 13.7, 17).
BIBLIOGRAFIA
1. Bíblia de Estudo de Genebra.
2. Mais Que Vencedores, William Hendriksen. Ed. Cultura Cristã.
*Indicação
de Leitura: “A Dor Invisível dos Presbíteros”,
Luciana Campos. Ed. Vozes
Ótimo artigo! Um dos melhores que já li sobre dízimos e ofertas. Aguardando a Parte II.
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