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terça-feira, 7 de maio de 2013

O Peregrino

Capítulo 4*

Cristão chega à porta estreita; pede o cumprimento da promessa evangélica, bate e é recebido com afabilidade.

Pouco depois chegava Cristão, felizmente, ao pé da suspirada porta estreita, sobre a qual estava escrito o seguinte dístico: “Bata que eu abro”. (Mateus 7:7).

Bateu repetidas vezes, dizendo: Ser-me-á permitido entrar agora? Aquele que está dentro terá vontade de receber-me, a mim, miserável pecador? Apesar de eu ter sido rebelde, cantarei eternamente os seus louvores nas alturas.

Por fim veio à porta uma pessoa chamada Boa-Vontade, e perguntou: Quem és? Donde vens? Que pretendes?

Cristão – Senhor, sou um pecador, cansado e carregado. Venho da cidade da Destruição, e dirijo-me ao Monte Sião para escapar à ira vindoura. Disseram-me, honrado homem, que para seguir o meu caminho devia entrar por esta porta; e desejo saber se dás licença que entre.

Boa-Vontade – Ora essa! Com todo o gosto. - E, dizendo isto, abriu-lhe a porta.

Quando Cristão ia entrando, Boa-Vontade puxou-o com força para dentro.

Cristão – Que significa isto?

Boa-Vontade – Há aqui perto um castelo, cujo governador é belzebu, que juntamente com os seus soldados, está continuamente despedindo setas contra aqueles que se aproximam desta porta, a fim de os matar antes que entrem.

Cristão – Alegro-me tanto quanto tremo em saber que estive em tamanho risco.

Boa-Vontade – Agora que já estás livre e sossegado, responde ao que te pergunto:Quem te mandou para aqui?

Cristão – O senhor Evangelista, que me disse: Vai ali, e bate à porta; lá ensinar-te-ão o que te convém fazer.

Boa-Vontade – Tens aberta uma porta que ninguém poderá fechar-te.

Cristão – Quão venturoso sou! Começo a colher o fruto da minha ousadia.

Boa-Vontade – Então, vieste só?

Cristão – Vim; porque nenhum dos meus vizinhos conheceu, como eu, o perigo em que se achava.

Boa-Vontade – Mas souberam alguns da tua vinda?

Cristão – Primeiro dela souberam minha mulher e meus filhos, que não queriam deixar-me partir; e às vozes destes acudiram vários vizinhos que também em altos gritos me chamavam; mas eu tapei os ouvidos e segui o meu caminho.

Boa-Vontade – E ninguém te seguiu para te aconselhar a voltares para casa?

Cristão – Seguiram-me Obstinado e Flexível, mas quando se convenceram da inutilidade dos seus esforços, deixaram-me – o primeiro, cobrindo-me de impropérios e o segundo pouco depois.

Boa-Vontade – E por que não veio esse contigo?

Cristão – Quando chegamos ao Pântano da Desconfiança, caímos ambos no lodo, e foi tal o susto do meu vizinho que não se atreveu a expor-se a outros perigos. Saiu da lagoa pela banda que ficava mais próxima de sua casa, dizendo-me que me deixava a posse plena do bendito país. Depois seguiu nas pisadas de Obstinado e eu continuei o meu caminho na direção desta porta.

Boa-Vontade – Quão desgraçado é este teu vizinho! A glória celestial tem para ele tão diminuto valor que lhe parece não valer a pena arriscar-se a alguns perigos para a alcançar.

Cristão – Senhor, é verdade quanto eu disse de Flexível; mas se compararmos o seu procedimento com o meu... não sei qual deles será o pior. Eu também me apartei deste caminho para seguir o da morte, porque dei ouvidos aos argumentos carnais dum sujeito chamado Sábio-Segundo-o-Mundo.

Cristão – Segui-o, enquanto tive forças. Ia em busca do tal senhor Legalidade; mas quando cheguei ao pé da montanha que fica próxima de sua casa, tive medo de que ela desabasse sobre mim e detive-me.

Boa-Vontade – Ah! É incalculável o número de mortes que essa montanha tem à sua conta! E quantas causará ela ainda! Feliz és tu, que escapaste de ser esmagado por ela.

Cristão – Verdade, verdade, quem sabe o que teria sido de mim, se naquele momento de incerteza e receio, não me tivesse aparecido Evangelista. Se não fora ele, nunca aqui eu teria chegado. Mas, por felicidade, aqui me acho tal qual sou, e certamente mais digno de ter sido esmagado pela montanha do que estar falando contigo. Grande favor me fizeste em abrir a porta, depois de tudo quanto te hei contado.

Boa-Vontade – A ninguém levantamos dificuldades, qualquer que tenha sido a sua vida anterior. A ninguém lançamos fora (João 6:37). Vou dar-te alguns esclarecimentos acerca do caminho que hás de seguir. Olha lá para diante. Vês um caminho estreito? É por ali que deves ir. Por ele passaram os Patriarcas, os Profetas, Cristo e os Apóstolos: é um caminho tão direito como uma linha reta.

Cristão – Então não tem voltas e desvios por onde se perca um forasteiro?

Boa-Vontade – Sim, tem muitas encruzilhadas, e muitos atalhos bastante largos; mas a regra para distinguir o verdadeiro caminho é esta: sempre reto e estreito (Mateus 7:14).

Segundo observei no meu sonho, perguntou-lhe depois:

Cristão – Não poderei ser aliviado do peso deste fardo que trago às costas? Se alguém não me ajuda, não me será possível ir adiante.

Boa-Vontade – Não desanimes. Continua a levar o teu fardo alegremente, até chegares ao lugar em que hás de ver-te livre dele, pois que por si mesmo te cairá dos ombros.

Cristão começou a cingir-se, preparando-se para a marcha. Boa-Vontade avisou-lhe de que brevemente encontraria a casa de Intérprete, onde devia bater e ouvir coisas muito úteis e excelentes; e despediu-se carinhosamente de Cristão, desejando-lhe próspera viagem e a companhia do Senhor.

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*Continuação da leitura do livro "O Peregrino" para a turma da "Sala de Estudos"

 Continuação... Capítulo 5


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