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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Oração o Exercício Contínuo da Fé


“Permita o Senhor que nos envolvamos na contemplação de sua sabedoria celestial com devoção real e crescente, para sua glória e para a nossa edificação. Amém.”[1]


A Oração É O Principal Exercício Da Fé
E Por Meio Dela Recebemos Os Benefícios De Deus[2]
João Calvino


Lugar da oração no conjunto da vida cristã.

Como se vê claramente quão necessitado está o homem e quão desprovido de todo bem, e como lhe falta os meios necessários para encontrar sua própria salvação. Portanto, quando procurar meios para remediar sua necessidade, deve sair de si mesmo, ir além e buscá-lo em outra parte, para que ele obtenha o socorro necessário.

Também nos é demonstrado que o Senhor amável e voluntariamente mostra-nos a Si mesmo em Cristo, em quem Ele nos oferece toda felicidade no lugar de nossa miséria e toda classe de riqueza em vez de pobreza, na qual Ele nos abre e apresenta os tesouros do céu, afim de que pela fé ponhamos nossos olhos em Seu amado Filho, nos convertendo em plena confiança n’Ele, para que nossa expectativa esteja sempre n’Ele, e n’Ele descansemos, e apegando-se com toda esperança e dependência. Esta, na verdade, é uma secreta e oculta filosofia que não pode se entender por silogismos, mas somente a entendem e aprendem aqueles a quem Deus tem aberto os olhos, para que vejam claro com sua luz.

Sabendo, pois, pela fé, e por ela somos ensinados a conhecermos, que todo o bem que necessitamos, carecemos e é indispensável, nos falta em nós mesmo e se encontra somente em Deus e em nosso Senhor Jesus Cristo, em quem aprouve ao Pai que habitasse a plenitude de sua bondade para que d’Ele tirássemos como de uma fonte abundante e inesgotável, aquilo que tanto necessitamos busquemos n’Ele. E mediante a oração lhe peçamos o que sabemos que provém d’Ele. Dessa maneira, conhecemos a Deus como Soberano Senhor e dispensador de todo bem, que nos convida a lhe apresentar nossas necessidades e desejos. Assim não nos dirigindo à Ele, ou não se aproximar d’Ele para pedir-lhe, é como se ouvíssemos falar que há um grande tesouro disponível para nós e o deixássemos enterrado, como se a pessoa não fizesse caso e deixasse escondido debaixo da terra esse benefício que lhe foi ensinado.

Por isso o Apóstolo, para provar que não pode existir fé verdadeira sem que dela brote a oração, disse: Como a fé nasce do evangelho, igualmente por ele somos instruídos à invocar a Deus com todo o nosso coração. (Rm 10.14). E o mesmo foi descrito um pouco antes, a saber, que o Espírito de adoção, o qual sela em nossos corações o testemunho do Evangelho, nos concede disposição para fazermos nossas petições, elevando a Deus os nossos desejos, movendo nossos corações com gemidos indizíveis, clamando confiantemente: Abba, Pai (Rm 8.15,26).

Portanto, a oração é uma forma de comunicação entre Deus e nós, pela qual colocamos diante Dele os nossos desejos, as nossas alegrias, nossos problemas e dificuldades – em resumo, tudo o que está em nosso coração. Sendo, assim, toda vez que invocarmos o Senhor devemos ter o cuidado de descer às profundezas do nosso coração e falar-lhe dali, e não apenas com a garganta e a língua... A oração verdadeira há de ser um movimento puro de nosso coração em direção a Deus, devemos livrar-nos de todo pensamento que gire em torno da nossa glória pessoal, de toda idéia de nossa dignidade pessoal e de toda autoconfiança ou justiça própria, mas na imensa misericórdia do Senhor, de modo que Ele atenda às nossas petições por amor a Si mesmo. Essa consciência que temos da nossa extrema necessidade, de maneira nenhuma deve deter-nos ou impedir-nos de nos aproximar de Deus. A oração não foi instituída para que nos exaltemos arrogantemente diante de Deus, nem para que ostentemos a nossa dignidade, mas sim para que admitamos a nossa fraqueza, chorosos como criança que pedem a seu pai que faça algo acerca de seus problemas.[3]


[1] Oração que Calvino tinha por hábito fazer no começo de suas pregações.
[2] Extraído da Instituición de la Religión Cristiana, João Calvino. Livro III, Cap.XX.1 – Da Oração.
[3] A Verdade para Todos os Tempos: Um Breve Esboço da Fé Cristã, João Calvino. Editora PES, São Paulo-SP, 2008. p. 64-65.

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