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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Considerações sobre a Reforma


Nesse artigo consideraremos de forma bastante resumida as interpretações dadas a Reforma do séc. XVI, para em seguida observarmos também de forma breve as principais ênfases teológicas dadas pelos reformadores. Não discutiremos aqui as causas da Reforma Protestante. Contudo, sabemos que ela teve contribuições, tanto intelectuais quanto políticas, que vão desde insatisfação popular para com o clero, envolvendo dentre elas aspectos morais, bem como reflexões teológicas unidas posteriormente aos interesses da nobreza das nações-estados.

 O entendimento da Reforma Protestante em alguns casos depende da visão do historiador, isso pode ser compreendido e dividido de forma geral, basicamente em dois grupos o religioso e o secular, porém essa divisão é bastante simplista.  

A Reforma na perspectiva religiosa:

Alguns historiadores romanos entendem a reforma apenas como uma revolta de protestantes contra a Igreja.[1] (esses veem a reforma apenas como um protesto que desencadeou outros, chegando a causar posteriormente dentre outras coisas, uma revolta popular contra o ensino e a postura da Igreja Romana, desse protesto vem o nome protestante).  

Entretanto, o historiador protestante considera-a como uma reforma que fez a vida religiosa voltar aos padrões das Escrituras.[2] Sendo ela um resgate das doutrinas bíblicas esquecidas pela securalização e paganização da igreja ao longo da história do cristianismo.

A Reforma na perspectiva secular:

O historiador secular interpreta-a como um movimento revolucionário. Porém se considerarmos a reforma somente a partir de uma perspectiva da política ou da administração eclesiástica, ela pode ser tida como uma revolta contra a autoridade da Igreja Romana e o seu chefe o Papa. Assim, os historiadores seculares dão mais atenção aos fatores secundários em sua interpretação desse período da história.[3]

Como afirmamos essas definições são muito simplistas, além disso elas dependem da escola em que o historiador está ligado, pois elas as vezes podem influenciar no seu entedimento e ainda assim isso pode variar de historiador para historiador.

Contudo, quando olhamos a Reforma por essas três óticas percebemos um pouco da sua dimensão. Porém, dos três pontos de vista, é pela ótica protestante que Reforma do séc. XVI pode ser contemplada de forma mais ampla. Isso por que ela desenvolve-se principalmente a partir da teologia dos reformadores, que “estavam interessados em desenvolver uma teologia que estivesse em completa concordância com as Escrituras.”[4]

Assim, eles destacaram a autoridade da Palavra de Deus, pois, a Igreja Medieval tinha se tornada secularizada, e se afastado da simplicidade das Escrituras. Desse modo, o compromisso da Reforma protestante, primeiramente, era para com a Palavra de Deus, isso pode ser percebido claramente pelas cinco ênfases que destacaram os reformadores, o que ficou conhecido como os cincos solas da reforma: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide, e Soli Deo Gloria. 

           Das principais questões teológicas da Reforma Protestante, dentro dessas cinco ênfases dos reformadores, consideradas também como os cinco pilares da reforma podemos destacar:

No Sola Scriptura, “Somente as Escrituras”, eles destacaram que as Escrituras são a única regra de fé e prática, e autoridade máxima na vida do povo de Deus, sendo a mesma Palavra do Próprio Deus. A reforma também possibilitou o acesso as Escrituras, pois, os reformadores traduziram a Bíblia para vários idiomas, sendo assim uma grande contribuição desse período da história cristã. O Sola Scriptura destaca ainda que as Escrituras estão acima de toda tradição humana e que estas devem ter aprovação das Escrituras, do contrário não passam de heresias ou no mínimo de meros acréscimos humanos. “nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos mando.” (Dt 4.2). Dessa maneira a igreja não está acima das Escrituras, mas as suas práticas devem ser guiadas e confirmadas pela Palavra de Deus. Daí surgiu posteriormente, a doutrina da Suficiência da Escrituras. “examinais as escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.” (Jo 5.39) Como o apóstolo Paulo declarou a Timóteo:

Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pelaem Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2Tm 3.14-17)

No Solus Christus, “Somente Cristo”, os reformadores enfatizaram a salvação somente por meio de Cristo, ou seja, Jesus é o único mediador entre Deus e o homem. No Solus Christus os reformadores demonstraram que Jesus é o Supremo Senhor da Igreja e o único mediador entre Deus e o homem e não o Papa. Eles destacaram assim, a obra suficiente e completa de Cristo, em favor do seu povo. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” (Atos 4.12)

No Sola Gratia, “Somente a Graça”, destacaram a salvação como sendo um ato da graça de Deus. Por meio do Sola Gratia os reformadores realçaram que o homem é salvo único e exclusivamente pela graça de Deus, ou seja, o favor imerecido de Deus para com o pecador, pois, a igreja romana ensinava que as obras ajudavam na salvação. Porém, a salvação não é uma troca com Deus, nem pode ser comprada pelo homem. A graça é derramada por Deus no coração do homem por meio do Espírito Santo, gerando a regeneração, o novo nascimento, e a fé salvadora. Por meio dela o homem é salvo da ira vindora e da condenação eterna. Nessa doutrina é tirado todo mérito humano no que diz respeito à salvação. Tanto dos pregadores, quanto dos que ouvem o evangelho, destacando assim, a soberania e a glória de Deus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie.” (Ef 2.8). Sendo assim: “justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.” (Rm 3.24)

No Sola Fide, “Somente a fé”, os reformadores enfatizaram a justificação pela fé, ou seja, somente a justiça de Cristo, recebida pela fé pode livrar o homem da ira de Deus. Esta foi a principal base da teologia de Lutero, quando discordou da venda de indulgencia da Igreja. Com base em “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Rm 5.1). Assim, eles destacavam que o homem não pode ser salvo por obras da lei, pois, ela não é suficiente para a salvação do homem que necessita de Cristo para ser salvo. (At 13.39; Rm 3.20,26 e 28).

Porém, essa doutrina não anula a obediencia a lei de Deus, como é descrito na carta do apóstolo Paulo aos romanos, muito menos a prática das boas obras, as quais Deus preparou para que andassemos nelas. “Pois somos feituras dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nela.” (Ef 2.9-10). Assim a obras sao reflexos da fe como firma as Escrituras:

Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé. Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem. Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante?... Vês como a fé operava juntamente com as suas obras... (Tg 2.14-22)

No Soli Deo Gloria, “Gloria Somente a Deus”, nela também é destacada que a salvação vem de Deus e é para glória Dele, pois tudo vem do Senhor. “porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.36). Ela enfatiza também que toda adoração deve ser dada somente a Deus. Assim o culto não visa satisfazer, entreter ou agradar o homem, mas sim glorificar e engrandecer a Deus. Por meio do Soli Deo Gloria, os reformadores destacaram que somente Deus é digno de toda honra, gloria, louvor, adoração.

Pode se perceber que essas doutrinas estão intimamente ligadas, sendo assim resumida: O homem é salvo somente por meio de Cristo, mediante a , sendo esta uma dádiva graciosa de Deus, capacitando para glorificar a Deus com a sua vida dirigida pelas Escrituras.

Assim, vemos que a ênfase principal da Reforma estava na teologia e não apenas nas reformas sociais, estas foram reflexos de uma vida de compromisso com as Escrituras e com a gloria de Deus.


[1] CAIRNS, Earle Edwin, “Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã”. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 250.
[2] Ibid.
[3] Ibid. p. 251.
[4] Ibid. p. 250.

Um comentário:

  1. Amei esse Blog meu irmão. Realmente muito edificador.Que Deus continue te abençoando poderosamente.
    Fica na paz meu irmão!!

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